Era apenas um Talvez

Wednesday, January 23, 2008

Ainda brinco em águas turvas...

Sunday, April 08, 2007

Tudo era azul
No canto de tua boca
O céu-mar
O céu era meu mar
Teus olhos meu amar
Um mergulho cool
Com salto de xadrez sapato
Atirando reis no asfalto
Cantava a melodia blue
Porque o céu era azul
E meu vestido envolto naqueles braços
Já desbraços, desabraços
Refletia um sussurro de outra cor
bordô

O poeta perdeu seu verso
Se achou sem nexo
Pegou no corpo
Pensou o copo

O poeta perdeu a rima
Se viu sem sina
Olhou platéias
Olvidou janelas

O poeta perdeu a vida
bebeu de sua própria Poesia.

Saturday, December 23, 2006

quero sim
me travestir de travesti
me avoar pela população
de coturnos e chinelos-avaí
quem sabe até vender jujuba no sinal
só para depois virar verso marginal

Saturday, August 19, 2006

Heranças

Herdo em mim:

Uma alma sofrida;
Uma hipocondria;
Uma singela anorexia.

Herdo em mim:

Um coração mal amado;
Um corpo hediondo;
Um olhar amargurado.

Herdo em mim:

Meus amores platônicos;
Meus desejos insanos;
Meus segredos vazios.

Herdo em mim:

Minhas metamorfoses;
Minhas noites insones;
Minhas realidades irreais.

Herdo em mim:

A paixão pelo grotesco;
A vida efêmera e limitada;
A lúdica embriaguez humana.

[Eis tudo que ainda resta de mim].

Boneca Parisiense

Vejam-me
Bajulem-me
Desejem-me

Deixem-me sentir que domino-os sem esforço
Deixem-me conversar tolices e ser tratada por sábia
Deixem-me insultá-los com graça

Venerem meus vestidos-jóias-prendas-dotes
Briguem por um casório-atestado-de-estirpe comigo
Dispensem minha afetação, mas não a mim!

Wee
Wee
Wee

Sou boneca de luxo
Sou boneca Mulher
Sou boneca futura esposa senhora mãe
Sou boneca com perfume e vazia
Sou boneca de bailes alfaiates confeitarias
Sou boneca sonho seu

Monday, August 07, 2006

“João, eu te encanto e reencanto com o lenho da vera cruz, e com os anjos filósofos que são trinta e seis e com o mouro encantador que tu te não partes de mim, e me digas quanto souberes, e me dês quanto tiveres, e me ames mais que todas as mulheres.”


Antônia Fernandes, Brasil, século XVI. Ensinava as mulheres a cativar o amado através das palavras mágicas acima que deveriam ser ditas perto dele.

(livro de História – origens, estruturas e processos; Luiz Koshiba)

Sunday, August 06, 2006

As letras garrafais do papel branco de mim.
Tudo era tão místico.
Acordar e saborear olhos já carmins.
Senti gotas cheirando blue blues enquanto me afogava no rio de tuas lágrimas.
Dançaria um tango se soubesse entre braços seguros me equilibrar ou talvez bambo na curva de alguns dedos cantar.

Sunday, July 30, 2006

Um copo de vinho
Uma lágrima

Dias vieram em que o burburinho dos bares soava como boa companhia
E a cheia lua enamorava o copo já pela metade
Dias vieram em que o melindre foi única veste
E o tinir de garrafas ao chão lembrava vagamente o espedaçar da própria vida

Uma lágrima no copo
Um vinho bebido

Dias vem em que as chamas quase apagadas são atiçadas pelo álcool bordô
E a lua galanteadora reflete, distraída, as dolorosas chagas no corpo que ergue o copo
Dias vem em que as lembranças afogam mais que o próprio pranto
E a fantasmagórica sombra consola a solidão ao abrir a porta de casa

Um outro copo de vinho
Uma vida posta neste copo
Uma lágrima no vinho

Passos suados. Olhos arregalados. Toco pele tua num esbarro. Finjo embaraço. Lágrimas murchas respingam calçadas quaisquer. Letreiros continuam capitalizando o mundo e a mim. Vontade de morar no copo plástico com aguardente do mendigo ao lado, naquela esquina que me veria pela última vez.

Eu era minha eu era tua
era de todo e qualquer ser
Eu era linda eu era nua
era crua e amanhecer
Eu era sonhos eu era vida
era vestidos e batons
Eu era sussurros eu era pêlos
[era apenas um cruzar de pernas no banco de um ônibus lotado.]