Era apenas um Talvez

Friday, February 17, 2006

Cafés acompanhados de verdes chás.
Paredes clamando o frenesi de um jazzman
que comporia a trilha sonora dos cabelos à francesa.
Embriagues de perdidas palavras e desengonçados gestos
Amplexos de idéias
Perplexas as platéias
Eram despontuais encontros em pontuais lugares
e flash-back na janela do ônibus.


[éternel bar.]

O oitavo andar não me comportava.
Por isto esvaziei-me com escarlates palavras
na rasgada Aurora.

[entre atos]

Entre beijos e afagos
Entre passos desencontrados
Entre coca-colas e cigarros
Entre Joplin e um Eu sem traços
Faço do papel meu anfiteatro.

Serenada

Abre a porta.
Ainda não me tranquei com a chave da desilusão.
Senta.
Traga de teu melhor cigarro
e como quem escarra me canta tua solidão.
A nua Lua implora ouvi-lo em lúdicas serenatas.
E eu meio que cansada das vozes do nada
mereço em monólogos a tua
perdição.

Saturday, February 11, 2006

Um copo de água pela metade sobre a mesa xadrez com três quadrados brancos respingados de café. E lá estava ela, sentada na rasgada poltrona carmim, a ouvir um jogo de futebol da TV do vizinho e as vozes estridentes de seus filhos que pareciam competir com o narrador a atenção do pai. Uma sirene ao longe. Não sabia ser delírio ou mais algum chamado da morte. Por que não levantar e ir escovar os dentes? Tentar tirar aquele gosto infeliz e desejoso de sangue da parca boca. Sangue seu. Sangue nojento e seu. O copo de água insistia em apoiar-se na mesa implorando que sua sede fosse por ele saciada.
Fim do primeiro tempo. Comerciais. Crianças berravam desesperadamente. Do outro lado da parede um ato foi desfechado.

Wednesday, February 01, 2006

A Loucura
cura
cura
cura
Louvemos a cura
Louvemos a loucura

A Menina

A Menina, que sonha não ser mais criança, dança descontroladamente pelo seu quarto feito de algodão doce e amarga solidão. Seus pés parecem querer parar, mas sua alma incansável deseja se libertar e voar, voar, voar... e também dançar, dançar, dançar.... Seus olhos conseguem refletir a agonia e egoísmo dos outros seres que assim como a Menina também são humanos. Mas, ao contrário dela são muito pequenos. Ela queria saber o porquê da existência de suas dores e aprender como desenhar, perfeitamente, nas brancas paredes seus verdes cabelos – misto de esperança plácida e rebeldia inconsciente de si. Aquele quarto se considerava seu Universo, talvez, por nunca tê-la visto mais sair de lá desde do dia em que quebrou um dos dedos da mão esquerda quando rodopiava com um saboroso pirulito imitador de arco-íris. A música a envolvia de súbitos prazeres. Transportava-a para o interior de algo que vagamente lembrava serem suas fantasias, deixando-a por lá perdida. Ela tinha um imenso desejo de se encontrar nesse labirinto azulado (única maneira de viver sem o constante atormento da morte).

Antes de se encarregar desta louca tarefa de encontrar-se, apenas dançava...

A poesia é um poço para abrigar lágrimas sedentas por um afogar-se pleno.