Era apenas um Talvez

Sunday, January 29, 2006

Perfume Corpóreo

Meu corpo
[exalador do cheiro daquele perfume - não francês - escondido no fundo do armário de minhas ilusões]
Ontem
clamou e se desesperou por um Amor que o usou e relutou.
Hoje
jaz num leito florido ausente de mim.

Quase

Eu quase fui bailarina no cortejo de João
Eu quase virei assassina de minha própria solidão
Eu quase cantei pelada no meio da multidão.

Quase... Quase criança sem nariz
Quase... Quase poeta feliz
Quase... Quase meretriz.

E de tanto quase ia queimando as verdes esperanças acumuladas [num colombino dia de Carnaval] com álcool bordô.

Um copo de vinho

Um copo de vinho
Uma lágrima

Dias vieram em que o burburinho dos bares soava como boa companhia
E a cheia lua enamorava o copo já pela metade
Dias vieram em que o melindre foi única veste
E o tinir de garrafas ao chão lembrava vagamente o espedaçar da própria vida

Uma lágrima no copo
Um vinho bebido

Dias vem em que as chamas quase apagadas são atiçadas pelo álcool bordô
E a lua galanteadora reflete, distraída, as dolorosas chagas no corpo que ergue o copo
Dias vem em que as lembranças afogam mais que o próprio pranto
E a fantasmagórica sombra consola a solidão ao abrir a porta de casa

Um outro copo de vinho
Uma vida posta neste copo
Uma lágrima no vinho