Era apenas um Talvez

Saturday, March 18, 2006

Ao néon, a lua cantava indiscreta o vestido carmim recheado de brancas bolinhas. Ela andou faceira e respondeu com piscadelas sem rímel.
Quis continuar seu desfile para o luar, mas aquela mesinha de tosca madeira azul parecia esperá-la, era um muquifo esquina cheirando suor, cigarro e cerveja. Noite bêbada. Sentou e pediu uma coca. Havia duas rodelas de limão no copo. Não lembrava de ter falando em limão para o garçom de havaianas amarelas. O que menos importava era isto, afinal o refrigerante ficava do mesmo preço. Bebeu a coca. Bebeu a cola. Teve uma ligeira sensação de ter bebido a insípida alma. Pagou com as únicas moedas da bolsinha dourada e saiu sem perceber o "obrigado". Cruzou mendigos e estranhos transeuntes ávidos por um ônibus, casa, comida e novela das oito. Atravessou largas listras hepáticas em pleno sinal verde, porque de vermelho já bastava o vestido. Parou um, dois, três minutos procurando talvez a lua que cansou de flertar. Quando voltou a si os saltos já se apressavam e a escova mal feita impedia os tingidos cabelos de participarem da correria contra o vento de típico fartum litorâneo. Atravessou outra rua, agora sem faixa e semáforo, e sumiu num beco qualquer da cidade me deixando a indagar qual seria o aroma de seu barato perfume.